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User:RodRabelo7/sandbox

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Tupinologia é um ramo da filologia brasileira voltada ao estudo do tupi antigo e das línguas gerais dele originadas no período colonial.[1]

Contexto[edit]

No início do século XVI, falavam-se no Brasil centenas de línguas indígenas, pertencentes a diferentes troncos e famílias.[2] A população nativa era bem maior do que a população de Portugal.[2] A colonização do Brasil teve início na costa, onde o tupi antigo era muito mais usado do que quaisquer outras línguas indígenas, de modo que ele foi aprendido pelos colonizadores.[2] Durante a colonização, o tupi antigo (falado nos séculos XVI e XVII) deu origem a duas línguas gerais, a saber, a língua geral paulista e a língua geral amazônica (faladas de meados do século XVII ao século XIX).[2] O tupi antigo e as línguas gerais que dele se originaram contribuíram significativamente para o léxico do português do Brasil e para sua toponímia, mais do que qualquer outra língua indígena.[2]

No século XVIII, a civilização europeia passou a ser comparada com as culturas ameríndias recém-descobertas.[3] Fatos da vida de povos que desconheciam a propriedade privada, as classes sociais e o Estado tornaram-se conhecidos na Europa, gerando profunda reflexão entre os iluministas contemporâneos.[3] Como consequência no plano estético, surgiu na segunda metade do século XVIII o indianismo árcade.[3] O indígena americano passou a ser retratado em obras literárias e exaltado como um tipo humano valoroso.[3] Mais tarde, também sob influência iluminista, emergiu o Romantismo, que valorizava a tradição histórica e nacional, voltando-se para o passado em busca de modelos e representações para as nações que surgiam no século XIX, entre as quais o Brasil, que se tornou independente em 1822.[3] Nesse contexto, os índios de outros séculos e a língua tupi antiga transformaram-se em símbolos de uma identidade nacional que se buscava estabelecer em oposição a Portugal.[3] Como desdobramento do “mito do bom selvagem”, surgiu o “mito do tupi”, representando um homem autenticamente brasileiro.[3] O índio do passado foi valorizado, e sua língua, exaltada.[3] Assim, no século XIX, leigos passaram a se dedicar ao estudo do tupi antigo.[3] Deu-se início ao estudo formal e sistemático dessa língua em meios não religiosos, iniciativa levada a efeito por intelectuais, escritores e cientistas.[3]

Histórico[edit]

O início do estudo formal e sistemático do tupi antigo rendeu alguns frutos, como o Dicionário da língua tupi, de Gonçalves Dias, e a Gramática da língua brasileira, de Pedro Luís Simpson.[3] Nessa época, entretanto, ainda não havia clareza em relação às diferenças entre o tupi antigo, as línguas gerais dele provenientes e o guarani.[3] Também não se conhecia precisamente o léxico do tupi antigo.[3] Já se acreditou, por exemplo, na existência de uma “língua tupi-guarani”, quando, na verdade, tupi-guarani se refere a uma família linguística.[4] Essa imprecisão conceitual também se refletiu no título do primeiro romance indianista do Brasil, publicado em 1857 e chamado O guarani por seu autor, José de Alencar.[4]

Em 1901, o engenheiro baiano Teodoro Sampaio publicou a obra O tupi na geografia nacional, na qual destacou o fato ainda pouco percebido de que a maior parte dos topônimos de origem tupi foi produto da ação civilizada, não atribuídos pelos próprios índios, mas em decorrência da ação das missões e das bandeiras.[4] O tupi antigo e as línguas gerais dele surgidas passaram a ser consideradas línguas que, juntamente com o português, desempenharam papel na formação da civilização brasileira, consideradas línguas indígenas “civilizadas”.[4] Teodoro Sampaio iniciava assim a tupinologia no Brasil.[citation needed] Sua obra incentivou consideravelmente o uso do tupi na denominação de lugares no Brasil, como admitiria o próprio autor no prefácio de sua terceira edição, de 1928.[5]

A predileção dos brasileiros pelos nomes indígenas na denominação dos lugares é hoje tão acentuada que a toponímia primitiva vai aos poucos se restaurando e às localidades novas dão-se, de preferência, nomes tirados da língua dos ameríndios tupis.[5]

— Teodoro Sampaio

Em 1935, durante a Era Vargas, instituiu-se a cadeira de língua tupi na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.[6] O primeiro regente de tal cadeira foi Plínio Ayrosa, engenheiro e pesquisador autônomo convidado pelo reitor da universidade para estabelecer nela esse curso.[6] Na década de 1940, surgiram iniciativas semelhantes.[6] Criaram-se cursos de tupi antigo na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (com Antônio Lemos Barbosa), na Universidade da Bahia (com Frederico Edelweiss) e na Universidade do Paraná (com Mansur Guérios).[6] Eduardo de Almeida Navarro considera esse período como o marco do surgimento formal da tupinologia.[6] Tamanha foi a reputação desses estudos que, durante o segundo governo de Getúlio Vargas, tramitou no Congresso Nacional um projeto de lei que tornava obrigatória a criação da cadeira de língua tupi em todas as faculdades de Letras do Brasil.[6]

Em 1938, Plínio Ayrosa publicou o Vocabulário na língua brasílica, um manuscrito do século XVII que continha o léxico do tupi antigo.[7] Isso permitiu compreender a diferença entre o tupi antigo e as línguas gerais que dele se originaram.[7] Eduardo de Almeida Navarro também considera esse acontecimento como um marco do surgimento da tupinologia.[7]

References[edit]

  1. ^ Navarro 2020, pp. 37, 40.
  2. ^ a b c d e Navarro 2020, p. 37.
  3. ^ a b c d e f g h i j k l m Navarro 2020, p. 38.
  4. ^ a b c d Navarro 2020, p. 39.
  5. ^ a b Navarro 2017, p. 100.
  6. ^ a b c d e f Navarro 2020, p. 40.
  7. ^ a b c Navarro 2017, p. 101.

Bibliography[edit]

  • Navarro, Eduardo de Almeida (2017). ""Tupi or not tupi" – A identidade indígena do Brasil" [“Tupi or not Tupi” – The indigenous identity of Brazil]. Revista Brasileira (in Portuguese) (91). Archived from the original on 27 March 2023.
  • Navarro, Eduardo de Almeida (2020). "A Tupinologia e seus críticos" [The Tupinology and its critics]. Linguística, letras e artes e as novas perspectivas dos saberes científicos (in Portuguese). Ponta Grossa: Atena. doi:10.22533/at.ed.4692025054. ISBN 978-65-5706-046-9. Archived from the original on 7 November 2022.
  • Navarro, Eduardo de Almeida (2021). "Os nomes de origem indígena dos municípios paulistas: uma classificação" [The names of indigenous origin of the municipalities in São Paulo: a classification]. Estudos Linguísticos (in Portuguese). 50 (2). doi:10.21165/el.v50i2.2865. Archived from the original on 5 February 2024.