Draft:Maomé em Meca
Muhammad bin Abdullah nasceu em Meca e lá passou os primeiros 52 anos de sua vida. Este período é dividido em dois períodos: antes e depois da declaração da missão profética. [1]
A Arábia pré-islâmica
[edit]A Arábia pré-islâmica caracterizou-se por uma complexa interacção de factores sociais, políticos e religiosos, que influenciaram significativamente a ascensão do Islão. Este período, muitas vezes referido como Jahiliya, foi marcado por uma forte ênfase na identidade tribal, pela falta de autoridade central, por diversas práticas religiosas e por uma paisagem cultural única. Compreender estes elementos é crucial para compreender o contexto em que surgiu a mensagem do Profeta Maomé e como esta transformou a região.
Tribalismo e Estrutura Social
No seio da sociedade árabe pré-islâmica estava o sistema tribal, que ditava quase todos os aspetos da vida. Cada tribo funcionava como uma unidade independente, com o seu próprio conjunto de costumes, líderes e territórios. Esta estrutura tribal levou a um cenário político fragmentado, onde o poder estava distribuído por várias tribos e os conflitos intertribais eram comuns.
Linhagem e Identidade: A linhagem desempenhou um papel crucial na determinação da posição social e do valor de um indivíduo dentro da estrutura tribal. A genealogia era uma ciência muito valorizada e os indivíduos tinham um grande orgulho na sua ascendência. As pessoas enfatizavam frequentemente a pureza das suas linhagens e as conquistas dos seus antepassados, havendo quem acreditasse que as linhagens árabes eram superiores a outras. Este foco na linhagem também influenciou as considerações sobre o casamento e as interações sociais. A importância da linhagem estendia-se ao clã, que era um subconjunto da tribo, e o valor dos indivíduos estava intimamente ligado à posição e influência do seu clã.
Liderança do Clã: Cada tribo era liderada por um chefe de clã, cujo papel era muitas vezes hereditário, mas também dependia de certas características. Estes líderes eram responsáveis por tomar decisões importantes, como as relacionadas com a guerra, a paz e os tratados com outras tribos. Foram colocados símbolos nas portas dos líderes do clã para indicar a sua posição. A obediência a estes líderes era um aspeto central da vida tribal, com o líder a incorporar a vontade coletiva da tribo. Os líderes tribais eram também considerados modelos para o seu povo, e as suas decisões influenciariam fortemente a forma como as pessoas se comportavam e se comportavam.
Mobilidade Social: Embora a linhagem fosse importante, a mobilidade social era possível com base em determinadas qualidades valorizadas. Por exemplo, indivíduos com características como capacidade oratória, bravura, generosidade e paciência eram frequentemente considerados para cargos de liderança. Estas qualidades podem ajudar um indivíduo a ganhar influência dentro da tribo e até a ascender a uma posição de liderança.
Árabes nómadas versus árabes estabelecidos: Havia uma distinção entre os árabes beduínos nómadas (árabes) e os residentes urbanos assentados (‘árabes). Os beduínos eram vistos como tendo uma forma mais pura de árabe em termos de língua e cultura porque tinham menos contacto com estrangeiros. Aqueles que viviam nas cidades foram expostos a diversas culturas e ideias através do comércio e das viagens. Embora os habitantes das cidades vivessem por vezes vidas luxuosas, sentiam frequentemente o desejo de regressar à simplicidade do deserto.
Laços Sociais: A estrutura unida da sociedade tribal criou fortes laços sociais, mas também tornou extremamente difícil para os indivíduos romperem com as normas estabelecidas. O espírito tribal dificultou o pensamento independente, pois as pessoas submetiam-se frequentemente às decisões dos seus líderes. Os fortes laços sociais que existiam na sociedade tribal significavam também que a saída da tribo era um ato significativo, semelhante a uma separação completa da estrutura social.
Dinâmica Política
O cenário político da Arábia pré-islâmica era caracterizado pela ausência de uma autoridade central, o que significava que o poder estava generalizado entre várias tribos. Esta descentralização resultou num estado constante de fluxo político, com mudanças de alianças e conflitos a surgirem frequentemente.
Falta de Governação Unificada: Ao contrário dos impérios centralizados do Irão e de Roma, a Arábia pré-islâmica carecia de uma estrutura política unificada. A ausência de um governo central significava que cada tribo operava de forma independente, levando a um ambiente político altamente descentralizado. Esta fragmentação foi um factor importante que contribuiu para as disputas e conflitos em curso entre tribos.
Pactos e Alianças Tribais: Devido à falta de uma autoridade central, as tribos mais pequenas formavam frequentemente alianças estratégicas, conhecidas como hilf, para se protegerem contra tribos maiores e mais poderosas. Estes pactos foram uma forma de as tribos fortalecerem a sua posição e sobreviverem num ambiente competitivo.
Hilf al-Fudul: Um pacto notável foi o Hilf al-Fudul, que visava defender os direitos dos oprimidos e defender a justiça, independentemente das filiações tribais. Esta aliança destaca-se pelo seu foco nos princípios morais, em vez dos interesses puramente tribais.
Paisagem Religiosa
A Arábia pré-islâmica era um caldeirão de várias crenças e práticas religiosas. Embora o politeísmo fosse a forma dominante de religião, também houve influências do judaísmo, do cristianismo e da tradição monoteísta de Abraão.
Politeísmo: A maioria dos árabes praticava o politeísmo, sendo que cada tribo tinha frequentemente o seu próprio conjunto de ídolos e divindades. Estes ídolos não eram apenas objetos de adoração, mas também símbolos de identidade tribal, honra e poder. As práticas religiosas estavam profundamente interligadas com as estruturas sociais, com as tribos a competirem para elevar o seu estatuto através de exibições e rituais religiosos. Até a Kaaba, um local religioso central, estava rodeada de ídolos, realçando a difusão das práticas politeístas. As práticas politeístas reforçaram as divisões sociais e criaram uma estrutura para a competição tribal.
Adoração de ídolos: A adoração de ídolos era uma prática pessoal e flexível, com as pessoas a trocarem de ídolos se encontrassem uma pedra melhor. As tribos também se envolviam nas suas próprias formas de súplica e oração durante a peregrinação do Hajj, apresentando variações nos costumes religiosos. Esta flexibilidade e a natureza pessoal da adoração de ídolos reflectiam a natureza descentralizada e individualizada da prática religiosa.
Influências monoteístas: Apesar da prevalência do politeísmo, as ideias monoteístas persistiram através da tradição de Abraão, e aqueles que aderiram a esta tradição eram conhecidos como Hunafa. Os Hunafa procuraram seguir a fé monoteísta pura de Abraão, rejeitando a adoração de ídolos e várias outras práticas que consideravam distorções da fé original. No entanto, mesmo estas crenças monoteístas foram por vezes distorcidas ou combinadas com aspectos de outras tradições religiosas.
Judaísmo e Cristianismo: O Judaísmo e o Cristianismo também estiveram presentes na Península Arábica, embora tenham sido seguidos por comunidades mais pequenas. As comunidades judaicas eram conhecidas pelas suas capacidades na agricultura, na ferraria e no fabrico de armas, bem como pela sua prosperidade económica. O Cristianismo esteve presente, particularmente no Iémen e na Síria, e alguns árabes converteram-se ao Cristianismo. O “Povo do Livro” era frequentemente consultado sobre conhecimentos religiosos, destacando a sua influência cultural e intelectual na sociedade.
Distorções das Práticas Religiosas: Com o tempo, muitas das práticas monoteístas originais foram distorcidas. Até as súplicas utilizadas durante a peregrinação do Hajj foram alteradas por várias tribos, demonstrando um desvio das formas originais. A fluidez e as mudanças nos costumes religiosos refletiram uma mudança cultural mais ampla, afastando-se das práticas monoteístas originais.
O significado de Meca
Meca ocupou uma posição significativa na Arábia pré-islâmica, tanto como centro religioso como comercial. A importância da cidade deveu-se em grande parte à presença da Caaba e ao seu papel como importante centro comercial.
Tribo Quraysh: A tribo dos Quraysh ocupava uma posição de destaque em Meca. Qusay, um antepassado do profeta Maomé, desempenhou um papel fundamental no estabelecimento da influência dos coraixitas em Meca, na organização de uma casa consultiva e na gestão dos serviços para os peregrinos. Esta elevação dos Quraysh foi significativa e fez com que a tribo se tornasse a mais poderosa da região.
Serviço aos Peregrinos: Os Quraysh, especialmente Hashim, assumiram a responsabilidade de servir os peregrinos da Kaaba, aumentando ainda mais o prestígio da tribo. Hashim encorajou as pessoas a homenagear os peregrinos e a prestar-lhes ajuda, o que aumentou a importância de Meca como local religioso.
Comércio e Comércio: Os Quraysh também estabeleceram rotas comerciais, especialmente durante o Inverno e o Verão, que eram vitais para o bem-estar económico da cidade. A posição de Meca como um importante centro comercial significava que estava exposta a pessoas e ideias de várias partes da região. A Caaba não era apenas um local religioso, mas também um local que atraía comerciantes e ajudava a facilitar o intercâmbio cultural.
Expressões Culturais
Os árabes pré-islâmicos tinham também uma vida cultural rica, caracterizada por fortes tradições orais e expressões artísticas.
Poesia e Oratória: A poesia e a oratória eram formas significativas de expressão cultural e eram utilizadas para diversos fins, como elogiar uma tribo, censurar outras pessoas ou celebrar acontecimentos importantes. A capacidade de utilizar a linguagem de forma eficaz era muito valorizada e os poetas e oradores exerciam uma influência considerável. A poesia era frequentemente utilizada para afirmar a superioridade tribal. Estas expressões culturais foram uma parte importante da forma como as tribos comunicaram e registaram a sua história.
Genealogia: Como se assinalou, o estudo da genealogia era uma ciência bem desenvolvida entre os árabes pré-islâmicos. Esperava-se que as pessoas conhecessem a sua própria linhagem, bem como a linhagem da sua tribo e dos seus vários subclãs. Este conhecimento da linhagem serviu para reforçar a identidade e o estatuto tribal.
A Jahiliya
A era pré-islâmica era conhecida como Jahiliya, um termo frequentemente traduzido como "Era da Ignorância". No entanto, este termo não se refere simplesmente à falta de conhecimento. Pelo contrário, significa um estado de desordem social, moral e religiosa, onde o tribalismo e outras formas de ignorância ofuscam frequentemente a razão e a justiça. O termo Jahiliya abrange os valores e comportamentos comuns nesta época, incluindo o tribalismo, a violência e a falta de adesão à orientação moral ou divina.
Ignorância e Espírito Tribal: O espírito tribal era tal que substituiu a lógica e o pensamento individual. A Jahiliya era também marcada pelo culto dos desejos humanos, o que era considerado outra forma de ignorância. O espírito tribal incentivou a priorização da lealdade tribal em detrimento da justiça, o que resultou na falta de normas e padrões de vida unificados.
Falta de uma lei unificada: A falta de um sistema jurídico unificado contribuiu para o caos e a instabilidade que prevaleciam na sociedade. A ausência de um quadro consistente para a justiça e a ordem tornou as querelas e as guerras tribais endémicas. [2]
O significado deste contexto
O complexo ambiente social, político e religioso da Arábia pré-islâmica criou o pano de fundo para a ascensão do Islão. A estrutura tribal, a ênfase na linhagem, as diversas práticas religiosas, as expressões culturais e a falta de uma autoridade central desempenharam um papel na formação do contexto em que o Profeta Maomé iniciou a sua missão. Estes factores tiveram também impacto na forma como o Islão seria posteriormente adoptado e desenvolvido. A natureza caótica da Jahiliya proporcionaria então um contraste essencial com a mensagem de ordem, paz e justiça que emergiria através do Islão. A ênfase que o Islão colocaria numa religião unificada e numa autoridade central pode ser entendida como uma resposta a esta sociedade caótica e fragmentada. [3]
Ao compreender o contexto árabe pré-islâmico, pode-se obter uma visão mais profunda das mudanças dramáticas que ocorreram com a ascensão do Islão e do significado da fé islâmica à medida que se espalhou pela Península Arábica e mais além. [4]
Revelação
[edit]O Início da Revelação
[edit]A primeira revelação do Profeta Muhammad marcou o início de sua missão profética e foi um evento significativo na história islâmica. Essa revelação ocorreu na Caverna de Hira, uma pequena caverna localizada no Monte da Luz (Jabal al-Nur), ao nordeste de Meca. O Profeta costumava se retirar para lá por dias e noites em solidão, refletindo, adorando e buscando proximidade com Deus, uma prática chamada Taḥannuth. O termo Taḥannuth significa afastar-se do pecado e ser obediente a Deus. Embora essa prática estivesse associada aos Hunafa—monoteístas que rejeitavam a idolatria antes do Islã—, há debates sobre se era um costume amplamente difundido entre os coraixitas. Alguns relatos atribuem o início dessa tradição a ‘Abd al-Muṭṭalib, avô do Profeta.
O Evento da Primeira Revelação
[edit]Aos 40 anos, durante um de seus retiros na Caverna de Hira, o anjo Gabriel apareceu ao Profeta e ordenou: "Leia" (Iqra). O Profeta, que era iletrado, respondeu que não sabia ler. Gabriel o abraçou fortemente e repetiu a ordem três vezes. Na terceira vez, Gabriel recitou os versos iniciais da Surata Alaq:
"Leia em nome do seu Senhor que criou,
Criou o homem de um coágulo.
Leia, e o seu Senhor é o mais Generoso,
Que ensinou pelo uso da pena,
Ensinou ao homem o que ele não sabia."
Essa revelação deixou o Profeta profundamente abalado. Ele voltou para casa em estado de angústia e pediu a Khadijah, sua esposa, que o cobrisse com um manto. Quando contou o ocorrido, Khadijah o confortou, afirmando seu caráter nobre e virtudes, como bondade, generosidade e cuidado com os necessitados. Para buscar esclarecimento, Khadijah consultou seu primo Waraqah ibn Nawfal, um estudioso cristão. Waraqah confirmou que o ser que apareceu a Muhammad era o mesmo anjo que trouxe a revelação a Moisés e expressou seu desejo de apoiar o Profeta em sua missão.
Variações nos Relatos
[edit]Existem diferentes narrativas sobre a primeira revelação, com pequenas diferenças nos detalhes. Algumas descrevem o Profeta ouvindo a voz de Gabriel chamando-o de "o Profeta de Deus" após a revelação. Em alguns relatos, Gabriel é retratado segurando um livro e apertando o Profeta com tanta força que ele sentiu uma imensa pressão física.
Embora esses relatos enfatizem o impacto profundo do evento, eles também levantam questões teológicas. Por exemplo, alguns sugerem que o Profeta experimentou dúvida sobre sua missão profética. No entanto, estudiosos islâmicos argumentam que tais interpretações conflitam com a certeza e a visão inerentes às experiências proféticas, conforme afirmado no Alcorão. O Imam Sadiq (‘a) destacou que os profetas reconhecem sua missão com total certeza, pois o “véu” é levantado para eles.
Pausa na Revelação (Fatrah)
[edit]Após a revelação inicial, houve uma pausa na comunicação entre o Profeta e Gabriel. A duração dessa pausa é debatida, com estimativas variando de três dias a três anos. Esse período serviu para preparar espiritualmente o Profeta para a imensa responsabilidade de sua missão. Durante esse tempo, os politeístas zombavam do Profeta, sugerindo que ele havia sido abandonado por Deus. Em resposta, a Surata Duha foi revelada, tranquilizando o Profeta:
"Pelo brilho da manhã,
E pela noite quando está tranquila!
O seu Senhor não o abandonou, nem está insatisfeito."
Manifestações Físicas da Revelação
[edit]O processo de receber a revelação era intenso e fisicamente extenuante para o Profeta. Sinais incluíam tremores, suor e uma sensação de grande pressão. Em alguns casos, o Profeta pedia para ser coberto com um manto para se recuperar. Apesar da dificuldade, essas experiências não causavam confusão sobre sua missão. O Alcorão enfatiza a certeza e a visão com que o Profeta desempenhava seu papel:
"Diga: 'De fato, estou sobre uma prova clara de meu Senhor...’" (6:57) "Diga: 'Este é o meu caminho. Eu convoco para Deus com visão clara—eu e aqueles que me seguem...’" (12:108)
Surata Muzzammil e o Peso da Revelação
[edit]Deus preparou ainda mais o Profeta para sua missão através dos versos iniciais da Surata Muzzammil, que ordenavam dedicação à adoração e perseverança:
"Ó você que está envolto em seu manto! Levante-se para a vigília da noite, exceto por um pouco…
E recite o Alcorão de forma pausada.
De fato, em breve lançaremos sobre você uma palavra pesada."
Este versículo destaca a imensa responsabilidade de transmitir a mensagem de Deus à humanidade e a força espiritual necessária para cumprir essa missão.
Revelações Posteriores e Desafios
[edit]A primeira revelação iniciou uma fase transformadora na vida do Profeta. À medida que os versos do Alcorão continuavam a ser revelados, eles eram frequentemente acompanhados por sinais físicos da revelação. O Profeta recitava os versos para seus companheiros após recebê-los, garantindo sua preservação e disseminação. Em alguns casos, sua urgência em recitar levou à revelação de um verso que o instruía a ser paciente e aguardar a conclusão da revelação:
"...Não se apresse com o Alcorão antes que sua revelação seja concluída para você, e diga: 'Meu Senhor! Aumenta-me em conhecimento.’" (20:114)
O período inicial da revelação foi marcado por desafios significativos e um intenso crescimento espiritual. Apesar das dificuldades, o Profeta permaneceu firme, guiado pela tranquilidade divina e sua fé inabalável na missão. Esse período fundamental preparou o caminho para a disseminação do Islã e da mensagem do Alcorão.
Os Primeiros Passos na Expansão do Islã
[edit]Com base em relatos históricos e fontes, os primeiros passos na expansão do Islã foram os seguintes:
Convite Secreto:
[edit]Nos primeiros anos da Profecia, o Profeta Muhammad (que a paz esteja com ele) convidou as pessoas para o Islã de forma secreta por um período de três anos. Essa abordagem cautelosa foi adotada para evitar a oposição intensa dos coraixitas. O Profeta buscava prevenir conflitos precoces com os politeístas.
Durante essa fase, Khadija, esposa do Profeta, e Ali, seu primo, foram dos primeiros a aceitar o Islã. Zayd ibn Harithah, filho adotivo do Profeta, também aceitou o Islã nesse período. Alguns estudiosos argumentam que Abu Bakr também se converteu durante essa época, embora isso seja debatido.
Nesta etapa, os coraixitas ainda não haviam se oposto abertamente ao Islã. Quando o Profeta passava por eles, comentavam: "O filho de Abdul Muttalib fala de assuntos celestiais."
Declaração Pública da Mensagem:
[edit]Após três anos de convite secreto, Deus ordenou ao Profeta que proclamasse sua mensagem abertamente. Essa ordem foi revelada nos versículos:
"Proclame abertamente o que lhe foi ordenado e desvie-se dos politeístas" (Alcorão 15:94) e
"E advirta os seus parentes mais próximos" (Alcorão 26:214).
Após essa ordem, o Profeta começou a convidar publicamente as pessoas ao monoteísmo e à rejeição da idolatria. Ele também advertiu seus parentes próximos, chamando-os ao Islã. Essa declaração pública provocou forte oposição dos coraixitas, que se sentiram ameaçados pela crescente influência do Islã e começaram a resistir ativamente.
Refúgio na Casa de Arqam:
[edit]À medida que a perseguição dos coraixitas aos muçulmanos aumentava, o Profeta e seus seguidores buscaram refúgio na casa de Arqam ibn Abi Arqam. Essa casa tornou-se um centro de ensino e adoração. Localizada perto do Monte Safa, a casa de Arqam serviu como um local onde o Profeta ensinava o Alcorão e os princípios do Islã aos seus seguidores. Várias pessoas aceitaram o Islã nesse local, incluindo Mus'ab ibn Umair e Ammar ibn Yasir. Alguns relatos sugerem que Umar ibn al-Khattab também se converteu ao Islã nessa casa, embora isso seja debatido.
Migração para a Abissínia:
[edit]Quando a perseguição dos coraixitas se intensificou, um grupo de muçulmanos migrou para a Abissínia. Essa migração ofereceu a eles segurança contra a opressão em Meca e a oportunidade de espalhar o Islã em outra terra.
Fatores Chave na Expansão Inicial do Islã
[edit]Ênfase no Monoteísmo: O Profeta sempre enfatizou o monoteísmo (Tawhid), chamando as pessoas para adorar o Deus Único e rejeitar a idolatria e a superstição.
- O Apelo da Eloquência do Alcorão: A eloquência única e a mensagem profunda do Alcorão tiveram um impacto significativo, atraindo muitas pessoas ao Islã.
- O Caráter Nobre do Profeta: O caráter e a conduta exemplares do Profeta desempenharam um papel vital na atração das pessoas ao Islã. Ele era conhecido por sua bondade, compaixão, justiça e honestidade.
- Abordagem Gradual no Convite: O Profeta adotou uma abordagem gradual em sua missão. Ele começou com os princípios centrais do Islã e, aos poucos, introduziu suas regras e regulamentações. Essa abordagem permitiu que as pessoas se familiarizassem com o Islã e o aceitassem ao longo do tempo.
- Aproveitamento de Oportunidades: O Profeta utilizou várias oportunidades para espalhar o Islã. Ele se reuniu com líderes tribais durante a temporada de peregrinação, convidando-os ao Islã. Ele também pregava nos mercados de Meca.
- A Influência do Alcorão Sobre os Indivíduos: Alguns indivíduos, como Tufayl ibn Amr, foram profundamente impactados pelos versículos do Alcorão e abraçaram o Islã. Até mesmo opositores como Walid ibn al-Mughira admitiram que as palavras do Alcorão não poderiam ter origem humana.
Resumo: A expansão do Islã nos primeiros anos da missão do Profeta começou com o convite secreto, a proclamação pública, o refúgio na casa de Arqam e a migração para a Abissínia. Durante esse período, o Profeta enfatizou o monoteísmo, a beleza da mensagem do Alcorão, seu caráter nobre e uma abordagem gradual no ensino do Islã. Essas estratégias ajudaram a atrair muitas pessoas à fé, apesar dos desafios impostos pelos coraixitas. [5]
Táticas Políticas dos Coraixitas Contra o Profeta Muhammad
[edit]Os coraixitas empregaram diversas táticas políticas sofisticadas para enfrentar o Profeta Muhammad e sua mensagem. O objetivo principal era impedir a propagação do Islã e proteger seu poder e status. Abaixo está uma análise detalhada dessas táticas:
Negociações e Barganhas com Abu Talib: Os coraixitas abordaram repetidamente Abu Talib, tio do Profeta e líder do clã Banu Hashim. Sabendo da grande influência de Abu Talib, eles buscaram persuadi-lo a retirar seu apoio ao Profeta.
Tentativas de Persuasão: Os coraixitas ofereceram vários incentivos a Abu Talib. Em uma ocasião, propuseram entregar o filho deles, ‘Amarah ibn Walid, em troca do Profeta. Abu Talib rejeitou veementemente a proposta.
Pedidos de Compromisso: Os coraixitas também pediram que Abu Talib persuadisse o Profeta a parar de convidar as pessoas ao Islã ou, pelo menos, permitisse que eles continuassem adorando seus ídolos. Abu Talib lidava com essas demandas com sabedoria, buscando evitar conflitos abertos enquanto mantinha seu apoio ao Profeta.
Criação de Divisão na Sociedade: Os coraixitas tentaram semear discórdia entre as tribos árabes para dificultar a expansão do Islã. Espalharam rumores e acusações falsas para manchar a reputação do Profeta e desmotivar as pessoas a abraçarem o Islã.
Falsas Acusações: Chamavam o Profeta de “poeta,” “feiticeiro” e “louco” para diminuir sua influência. Também rotulavam seus seguidores como “Sabi’” (apóstatas) para isolá-los socialmente.
Disseminação de Informações Falsas: Os coraixitas alegavam que o Profeta estava causando divisões entre famílias e tribos.
Perseguição aos Muçulmanos: Ao perceberem a crescente influência da mensagem do Profeta, os coraixitas intensificaram a perseguição contra os muçulmanos. Eles torturavam, confiscavam bens e ostracizavam socialmente os muçulmanos.
Tortura de Muçulmanos Vulneráveis: Escravos e pessoas socialmente desfavorecidos eram alvos principais. Bilal al-Habashi é um exemplo notável de quem sofreu tortura severa.
Objetivo: Os coraixitas buscavam intimidar os muçulmanos e forçá-los a voltar à idolatria.
Boicote Econômico e Social: Para conter a propagação do Islã, os coraixitas impuseram um boicote econômico e social contra os muçulmanos. Eles se recusavam a negociar ou interagir com eles, isolando-os da sociedade em geral. Esse boicote foi especialmente rigoroso durante o confinamento dos muçulmanos no Vale de Abu Talib (Shi’b Abi Talib).
Tentativas de Assassinar o Profeta: Por fim, os coraixitas decidiram assassinar o Profeta. Eles elaboraram vários planos de assassinato, mas Allah constantemente o protegia.
Guerra Psicológica e Assassinato de Reputação: Os coraixitas procuravam alienar as pessoas do Profeta criando um ambiente negativo e manchando sua imagem.
Zombarias e Abusos Verbais: Ridicularizavam o Profeta, insultavam-no e lançavam acusações infundadas. Por exemplo, chamavam-no de “Ibn Abi Kabsha,” referindo-se a alguém que desrespeitava tradições sagradas. Também zombavam de sua falta de descendentes masculinos, chamando-o de "Abtar" (cortado). Em resposta, a Surata Al-Kawthar foi revelada.
Assédio Físico: Realizavam ações humilhantes, como jogar vísceras de animais na porta do Profeta.
Impedimento de Ouvir o Alcorão: Com medo do poder transformador do Alcorão, os coraixitas desencorajavam as pessoas a ouvirem seus versos.
Criação de Distrações: Durante a recitação do Alcorão pelo Profeta, eles faziam barulho e tumulto para abafar sua voz. Também alertavam as pessoas a não escutarem as palavras do Profeta.
O Papel de Abu Talib no Apoio ao Profeta: Em meio a esses desafios, o apoio inabalável de Abu Talib ao Profeta foi fundamental. Embora não tenha declarado sua fé abertamente, Abu Talib protegeu o Profeta das conspirações e abusos dos coraixitas.
Medidas de Proteção: Abu Talib defendia o Profeta enquanto escondia sua crença. Também compunha poesias e fazia discursos para amenizar tensões e evitar conflitos.
Conclusão: As táticas políticas dos coraixitas contra o Profeta incluíram uma combinação de negociações, subornos, ameaças, perseguições, guerra psicológica e boicotes econômicos e sociais. O objetivo principal era impedir a propagação do Islã e preservar seu poder. No entanto, por meio de sua confiança em Allah, paciência, resiliência e com o apoio de Abu Talib e seus companheiros, o Profeta superou esses desafios e espalhou com sucesso a mensagem do Islã. [6]
O Contexto Religioso do Profeta Muhammad
[edit]Com base em relatos históricos e fontes, o contexto religioso do Profeta Muhammad pode ser resumido da seguinte forma:
Inclinação para o Monoteísmo Antes da Profecia: O Profeta não acreditava nem praticava a adoração de ídolos prevalente em Meca antes de sua missão profética. Ele tinha inclinação para a religião monoteísta do Profeta Ibrahim (Abraão), baseada na adoração a um único Deus. Aqueles que seguiam essa fé na época eram conhecidos como Hanif. O Profeta Muhammad era considerado parte desse grupo.
Adoração na Caverna de Hira: Antes de receber a profecia, o Profeta costumava se retirar para a Caverna de Hira, perto de Meca, para adorar e refletir. Essa prática, conhecida como tahannuth, envolvia a abstenção do pecado e a dedicação à adoração de Deus. Na essência, o tahannuth era uma forma de seguir a fé pura dos Hanif e evitar as impurezas.
Evitação de Práticas Politeístas: O Profeta nunca tocou em ídolos, consumiu álcool ou participou de cerimônias de adoração a ídolos. Ele se manteve afastado de todas as práticas politeístas e imorais prevalentes em sua sociedade.
Influência da Religião de Ibrahim (Abraão): O Profeta se considerava seguidor da fé de Ibrahim. Ele destacou essa conexão em seus ensinamentos, afirmando que foi enviado para reviver a religião de Ibrahim. O Alcorão também enfatiza essa ligação, descrevendo o Profeta como seguidor do caminho monoteísta e reto de Ibrahim (Hanif).
Oposição às Crenças Ignorantes: O Profeta se opunha às crenças e práticas comuns da sociedade árabe pré-islâmica, como preconceitos tribais e a adoração de ídolos. Ele considerava essas práticas como frutos da ignorância e da superstição.
Ausência de Familiaridade com o Alcorão Antes da Revelação: Antes que o Alcorão fosse revelado a ele, o Profeta não tinha conhecimento prévio dele, nem havia escrito ou lido algo relacionado. O Alcorão foi enviado a ele como um milagre divino de Deus.
Ênfase no Monoteísmo em Sua Mensagem: Desde o início de sua missão, o Profeta enfatizou o monoteísmo e a rejeição da adoração de ídolos. Sua mensagem era centrada na declaração de "La ilaha illallah" (Não há divindade além de Deus), que se tornou a base da fé islâmica.
Abstinência de Comportamentos Imorais: Mesmo antes da profecia, o Profeta se absteve de comportamentos imorais, como o consumo de álcool e a participação em reuniões frívolas. Ele era conhecido por seu caráter nobre, honestidade e veracidade.
Conclusão: Antes da profecia, o Profeta Muhammad era uma pessoa devota e monoteísta, que se mantinha distante de crenças supersticiosas e ações imorais. Ele buscava a verdade por meio de sua inclinação para a religião de Ibrahim e da adoração na Caverna de Hira. Esse contexto religioso desempenhou um papel crucial na formação de sua missão profética e o preparou para ser escolhido como o Selo dos Profetas. [7]
References
[edit]- ^ jafariyan 2020, p. 65.
- ^ jafariyan 2020, p. 60.
- ^ jafariyan 2020, p. 69.
- ^ jafariyan 2020, p. 70.
- ^ jafariyan 2020, p. 140-156.
- ^ jafariyan 2020, p. 120-135.
- ^ jafariyan 2020, p. 135-146.